O início de tudo
Francisco José de Carvalho, um dos criadores visionários do boi branco do Brasil, certamente jamais imaginaria que o legado de seus filhos suplantaria muito além dos limites daquela sorte de terras no Prata - MG, e o rebanho fino que guardava em seus pastos.
Estamos no início do século. Entre Carrancas e o Sertão da Farinha Podre, como até há pouco era chamado o Triângulo Mineiro. Precisamente no Sertão do Prata, ali por onde flui o Rio do Peixe.
O major
O major Francisco José de Carvalho, avô de Rubico, descendente dos portugueses Paulo Pereira e Ana Maria de Carvalho, que em 1700 deixaram a comarca de Guimarães, em Portugal, e partiram em direção ao novo mundo.
Estabeleceram-se em Carrancas, sul das Minas Gerais, onde geraram numerosa prole; muitos de seus descendentes foram contados entre os primeiros povoadores do sertão do Prata. O major foi casado com Umbelina Teodoro de Andrade, de família afazendada na Boa Vista do Rio Verde e nas Primas, às margens do Rio do Peixe.
O pioneiro
Francisco José de Carvalho, o Chiquinho, nasceu em Prata - MG
Capaz de antever o futuro participou da importação de zebu, em 1918, e foi um dos primeiros a registrar marca de gado no Ministério da Agricultura. Foi um pioneiro, sem saber que estava sendo.
Casou-se com dona Francisca de Andrade Costa Carvalho. Deixaram a seus filhos o legado da honradez e do trabalho.
francisco e francisca carvalho: pais de rubico
De zebu sabia-se, naquela época, apenas que era gado bem corcovo e chifrudo. Gir e guzerá principalmente, as duas raças que mais chamavam a atenção dos pecuaristas. Mais tarde, a indubrasil. O prestígio era tanto, que um animal gir chegava a valer duas vezes o preço de um nelore. Menos para Francisco José de Carvalho, o Chiquinho, pai de Rubico, que já percebia o potencial do nelore. Ele, que naquele ano de 1918, decidiu com o seu cunhado, Nenê Novais e outros criadores, mandar trazer para o Brasil o melhor zebu da Índia: gir, nelore e guzerá.
Além da importação, vão adquirindo matrizes dos melhores criadores da época - Nicolau Jerônimo de Paula, Rodolfo Machado Borges e Durval de Garcia Menezes. Em 1938, a fazenda de Chiquinho já é notada por fornecer os melhores reprodutores.
O nelore sobressai aos demais zebuínos. Reconhecem-lhe o enorme potencial de rendimento de carne. Embora o gado mais rústico tenha subsistido, pode-se dizer que se encerrava ali, naquele início de século, o reinado do tatu-com-cobra, boi de curraleiro. Nascia o nelore Brasil.
Chiquinho estava ajudando a fundar as bases da pecuária do futuro: moderna, tecnificada, melhorada e rentável. Pressentia e tomava decisões certas. Nem em sonhos ele poderia supor estar iniciando uma tradição familiar, que seus descendentes a cultivariam, no mínimo, até o próximo milênio: a tradição de olhar para o futuro. Espreitar o futuro desde muito cedo. E fazer escolhas corretas. De preferência, escolher o melhor.
Da esquerda para direita: João Humberto Carvalho, Elizabeth Carvalho Duarte e Rubico Carvalho.
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O registro
Em 1920, o jovem fazendeiro tem mais uma de suas intuições certeiras. Pressente o valor futuro das marcas de gado com registro. Empreende então uma longa viagem, sertão do Prata adentro, em lombo de burro, automóvel e trem, até chegar ao Rio de Janeiro, sede do governo federal.
Ali, na capital federal, aos 8 de abril de 1920, no prédio do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, o “Serviço de Registros Genealógicos e de Marcas para Animais” concede a Francisco José de Carvalho, residente do Prata-MG, o registro da marca F.
O quanto à marca F contribuiu e contribui para o patrimônio genético da pecuária brasileira? Essa é uma estória que até hoje não acabou de ser contada. Têm muitos personagens, alguns já nem estão mais entre nós. Novos protagonistas entraram em cena. Aqui também as gerações se sucedem. Ciosas de ajudarem o país a produzir a melhor proteína vermelha do mundo e a conquistar espaço na oferta global.
Cabe agora à história econômica do Brasil moderno contar a saga dos inventores do nelore Brasil, como a dos Carvalho, de Carrancas, um dos primeiros a destravar a porteira do melhoramento genético das raças nestes trópicos úmidos.
